Com apenas 5 quilos, o recém-nascido apresentou uma série de problemas raros no
órgão a ponto de não ser possível aguardar a chegada de um coração completo. Assim,
foi salvo ao receber veias e artérias de um doador, graças a um transplante parcial de coração.

Nos Estados Unidos, Owen Monroe chegou ao mundo com uma condição rara, chamada
“truncus arteriosus”, na qual as duas principais artérias do coração acabaram se tornando uma
só. Como se não fosse o suficiente, o vaso ainda apresentou uma hemorragia que tornou
inviável a espera por um transplante de coração completo.

Os médicos do hospital Duke Health decidiram, então, fazer um procedimento único no
mundo e arriscado: usar partes de um coração doador para reconstruir as artérias e válvulas
defeituosas do pequeno Owen. Especialista em cardiologia e fundador da Amplexus, o dr.
Fabrício da Silva explica como o corpo responde a esse tipo de procedimento. “Embora a
utilização de tecidos humanos conservados, conhecidos como homoenxertos já fossem
utilizados, a realização do transplante parcial permite uma viabilidade maior das células do
fragmento utilizado. Desta forma, o crescimento da estrutura responde aos estímulos do corpo
do paciente que recebeu o transplante para crescimento”, explica Fabrício.

O procedimento foi um sucesso e a expectativa é que o bebê tenha uma possibilidade maior
de vida. A equipe envolvida no procedimento acredita que uma abordagem semelhante
poderia ser usada para colocar válvulas cardíacas recém-doadas em inúmeras outras crianças
com problemas cardíacos. E, de acordo com o dr. Fabrício, essa não é a única vantagem. “O
grande impacto é permitir maior durabilidade dos tecidos utilizados, reduzindo o número de
novas cirurgias para estes pacientes ao longo da vida”, afirma o médico cardiologista. Os
profissionais do hospital Duke Health concordam e esperam que uma abordagem semelhante
possa ser usada para tratar substituições comuns de válvulas em crianças, fornecendo uma
cirurgia única para implantar tecido recém-doado que possa crescer com o paciente e evitar,
assim, inúmeros transplantes desgastantes ao longo da vida dele.

O primeiro transplante parcial de coração do mundo aconteceu nos Estados Unidos. Mas, essa
realidade não está distante do Brasil. Médico especialista em cardiologia, Juan Thomaz,
destaca que o país é referência quando se trata desse tipo de procedimento. “O primeiro
transplante parcial de coração foi realizado na Universidade de Duke nos Estados Unidos,
portanto o Brasil ainda não realizou o procedimento, mas com certeza tem todo o potencial
técnico necessário para realizá-lo numa eventual indicação. As nossas equipes de cardiologia e
cirurgia cardiovascular sempre estiveram como referência mundial em diversos procedimentos
e no manejo perioperatório. Além do mais, o Brasil é hoje o orgulhosamente o país com o
maior programa público de transplantes de órgãos e tecidos do mundo, com um enorme
potencial de crescimento.”, afirma Juan.